quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Poderia começar por dizer que te amo, talvez não tanto como já te amei, as coisas quando não são cuidadas acabam por desaparecer. Tu será que alguma vez me amaste?
Poderia dizer a falta que estranhamente ainda me fazes. Poderia dizer o quanto te admirei quando era pequeno, quando me contavas as tuas histórias, os momentos dificeis e as loucuras inerentes à adolescência, as histórias da tropa. Quando me mostravas as tuas fotos de cabelo comprido e a sorrir ao lado de pequenos miúdos pretos em plena guerra. Ensinaste-me muitas coisas, ainda hoje recordo as noites a jogar às cartas, a jogar consola, os jogos de futebol. não recordo como gostaria, recordo com saudades de um tempo que foi e nunca mais será, nunca foi. Admirava-te. Um dia quis ser como tu, já não quero. Fui obrigado a construir-me sozinho neste mundo frio, sem o teu apoio. Nunca me percebeste, nunca tentaste entender-me e isso dói-me, de todas as pessoas no mundo, tu deverias ser a que me percebia e mesmo que não, farias por perceber, davas-me a mão e percorrias o caminho comigo.

Pedias-me para te escrever e relembravas-me sempre das datas "importantes", guardas tudo o que te dei mas sempre achas-te pouco. O que querias realmente nunca te pude dar. Apesar de não ser pai, sei que o melhor que se pode receber são simplesmente palavras, amo-te pai, obrigado por estares presente. Mas isso a ti nunca te vou poder dizer. Tudo o que de bom tenho para dizer e para oferecer, nunca será a ti. Porque nunca estiveste aqui. Quando precisei de ti, nunca te encontrei, nunca me procuraste, foram sempre os outros. Mas era de ti que eu precisava.

Ensinaste-me a amar mesmo quando as pessoas estão ausentes, ensinaste-me a querer ser melhor, pela tua falta de vontade em lutar pelo que gostas e queres, ensinaste-me que as datas nada interessam, ensinaste-me a amar incondicionalmente, mas nunca me ensinaste a cair. Ensinaste-me da pior maneira a viver. Mas mesmo assim obrigado.

É dificil escrever-te, pensamentos voam, sinápses têm acidentes nos cruzamentos e as palavras entopem. A verdade é que passado tantos anos não resta mais que um vazio, emoções que se traduzem em lágrimas, mas vazio.
Não quero que me procures, nem que me ames como eu te amo.

No fundo tenho pena de ti, perdeste o melhor da minha vida e o melhor da tua. E isso, nunca, nenhum de nós irá recuperar.

Quando te aperceberes disso, eu estarei aqui, diferente, Mas guardo com carinho a criança que um dia te admirou, que jogava à bola na lama contigo, pode ser que ainda não tenha morrido, o homem que um dia foste.

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